A educação é uma das áreas mais
afetadas pelos impactos do corona-vírus de imediato e, consequentemente em
médio e longo prazo, principalmente a educação infantil, que é promovida de acordo
com a idade da criança, visando que esta desfrute da sua infância de forma
integral, enquanto aprende. Depois do grupo 5, a criança segue para o ensino
fundamental, independente de avaliações curriculares, pois a Base Nacional
Comum Curricular considera que as experiências vividas na educação infantil promovem
o aprendizado necessário para esta transição, e considera primordialmente a
diversidade na infância, ou seja, que as crianças aprendem em tempos e
proporções diferentes, conforme suas particularidades. O aprendizado não se dá
de forma compartimentalizada, onde cada componente curricular é ensinado
separadamente, e sim de forma interdisciplinar. Na educação infantil as
experiências proporcionam o aprendizado, uma criança pode, por exemplo,
aprender matemática à medida que vai conhecendo a estrutura familiar, quando identifica
as pessoas com quem mora, quantas são, quem são, seus nomes e graus de
parentesco. E para viajarmos ainda mais neste rio de experiências, a criança
pode criar uma rima, um verso, uma estrofe ou uma canção apresentando sua
família. A arte nem pensa em ficar de fora da educação infantil e é sobre isso
que eu quero tratar aqui com as famílias e educadoras, e não vou me limitar à
educação infantil oficial, mas à educação na infância, que compreende também os
anos iniciais do ensino fundamental.
Pensando ainda os desafios na
educação, imagine as crianças egressas da educação infantil para o ensino
fundamental, neste contexto pandêmico, sua experiência em era uma sala cheinha
de outras crianças com carinhas, cabelos e cores outras para colorir seu fantástico
mundo de aprendizagem. Depois ela entra em um tempo de isolamento, quando as creches
e escolas estavam, como toda a sociedade, tentando entender o cenário para se
adaptar a ele. E agora se veem no ensino fundamental, onde a educação é
compartimentalizada, em salas virtuais, vendo a professora e suas colegas do
outro lado da tela e um mundo de livros do lado de cá, em uma experiência
completamente diferente da realidade anterior.
Enquanto famílias com crianças matriculadas
na rede particular, optaram por tirar a criança da creche ou escola de educação
infantil, durante a pandemia, famílias com crianças matriculadas na rede
pública de Salvador mantiveram as matrículas para garantir, inclusive, as
cestas de alimentação, uma vez que é na creche e escola que as crianças fazem
suas principais refeições. Com a turminha em casa, matriculadas ou não, a
família se depara com o desafio de maior participação na educação da criança. Os
domicílios não contam com os recursos pedagógicos das instituições educacionais
e nem com uma equipe pedagógica habilitada para desempenhar este papel. Neste
cenário, os aparelhos digitais surgem como um caminho, às vezes como um alívio.
No entanto, é preciso considerar outras questões fundamentais como a saúde da
criança. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda através do documento
Menos Telas Mais Saúde que, crianças entre 2 e 5 anos de idade não sejam
expostas a telas de aparelhos digitais por mais de 1 hora por dia. Sabemos que
a realidade é outra em muitos domicílios, então é preciso que haja uma
força-tarefa entre professoras e famílias parentais ou afetivas, para pensar
sobre este cenário de desafios vividos pela educação e indagar-se sobre
possíveis ofertas, soluções e caminhos para avançarmos, diminuindo os danos causados
por este caos mundial e preservando a educação, para que nossas crianças tenham
um presente e um futuro de aprendizagem
garantidos.
O desafio de fazer acontecer a
educação está derrubando simbolicamente os muros e cercas das escolas e creches
e destruindo ruas e estradas entre essas instituições e as casas. Estamos
juntas mais do que nunca. É preciso perceber onde essa afirmação faz sentido,
usar a criatividade e fazer acontecer. É assim que a arte responde. Em outubro
do ano passado, iniciei um projeto que nasceu sob demanda a convite da
psicóloga Naiane Pechir, que desejava presentear seus sobrinhos com oficinas
artísticas. Adorei o desafio e mergulhei fundo nesta missão que chamei Oficinas
Criativas. Foram cinco encontros brincando, aprendendo e criando arte,
história, família, mundo e muitas outras coisas. Nestes momentos de
arte-educação a criança vai desvendando seu potencial criativo e suas
habilidades, a educadora, atenta vai percebendo tudo e propondo caminhos para
desenvolver as potencialidades da criança, propor desafios e atuar na
realização que é protagonizada pelas participantes. As Oficinas Criativas aconteceram
semanalmente, com uma hora de duração, para crianças entre 6 e 12 anos que,
durante os encontros se revelam artistas natas. É o que toda criança é, na
verdade, não é mesmo? Artista e arteira. O que semeará este solo fértil é o
adulto, educador ou familiar, com estratégias criativas a partir dos recursos e
cenário disponíveis para o sucesso do projeto pedagógico. Nas Oficinas
Criativas a arte, elemento que inspira a minha vida, contribui fazendo uso da
proposta dos Campos de Experiências da Educação Infantil (para maiores informações,
consulte a BNCC ou o Referencial Curricular da sua cidade), priorizando a
experiência como ambiente propício para a aprendizagem e utilizando-se das
linguagens artísticas, em diálogo com as narrativas das crianças e suas
afinidades ou desafios. Os processos partem de um plano com metodologia de
projeto e diretrizes pedagógicas pautadas na arte educação inter, multi e
transdisciplinar, alinhadas a lacunas estratégicas que serão preenchidas com as
expertises criativas da turma, culminando em um projeto de Arte EAD que rompe
barreiras e cria pontes, onde a criança é a protagonista da sua história.
A seguir, dois vídeos que produzi
e dialogam com este conteúdo.